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 A MENINA DOS SORRISO LARGO E OLHAR ENCANTADOR 

Quem vê Liana sempre sorridente pelos corredores da UFSM-PM, não imagina o que ela enfrentou e enfrenta diariamente por conta da ansiedade e depressão

A constante pressão para que os trabalhos sejam entregues no prazo, a cobrança por notas boas e as relações sociais tem sido fatores importantes quando se fala em saúde mental no ambiente acadêmico. Nessa fase de transições, escolhas e exigências por parte da família, amigos e principalmente do dia a dia na universidade faz com que muitos alunos acabem tendo alguns transtornos mentais, como relata a psicóloga da UFSM-PM, Ticiane dos Santos.

Ticiane dos SantosPscicóloga UFSM-PM
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Depois de perder sua irmã quando ainda estava no segundo ano da graduação, a estudante do curso de enfermagem da UFSM-PM, Liana Carvalho Fiebig, convive com transtornos que se tornaram obstáculos em sua rotina diária. As ligações de Liana com a universidade são fortes, já que sua irmã estudava também na mesma universidade, ambiente em que a acadêmica recebeu a notícia do falecimento.

Com a perda da irmã, a pressão da faculdade e do curso, Liana desencadeou um quadro de depressão pós-trauma e ansiedade. Após o diagnóstico, incentivada pelos pais, a estudante procurou atendimento psicológico e iniciou o tratamento de forma particular, porém, na época como a maioria das pessoas, ela também não o aceitava. “Não sou louca, não preciso de ajuda, não preciso de remédio”, relata Liana sobre os pensamentos que a rodeavam na etapa de aceitação. Segundo ela, a maioria das pessoas tem esse pré-conceito, de que atendimento psicológico é para louco, para pessoas doentes e para aceitar uma doença de cunho mental é muito difícil, ainda mais após um trauma. Passado um período, Liana percebeu que os atendimentos faziam bem para ela mesma. “Notei que precisava realmente conversar com alguém, expor tudo o que eu queria, o que eu não queria, o meu sentimento, a minha dor, a minha agonia e precisava de alguém que me guiasse e dissesse ‘não é assim, ou é assim, você precisa botar o pé no chão e enfrentar o que você tá vivendo. Não queria alguém que passasse a mão na minha cabeça, queria alguém que me olhasse e falasse ‘Li, vamos voltar para a realidade, você tem uma vida pela frente e precisa enfrentar’”. Para ela, quando se está em uma situação como essa é mais cômodo ficar pensando no sofrimento e não fazer nada, ficar no conforto da dor do que pensar em seguir em frente.   

Depois de um tempo, a aluna conheceu os serviços prestados pelo Núcleo de Apoio Pedagógico (NAP) e começou a fazer atendimento com a equipe e a psicóloga, Ticiane. Além do atendimento, Liana criou uma amizade com os profissionais desse setor e diz que esse foi um ponto importante para a sua melhora. “Eles sempre me incluíam nas atividades, nas saídas, nas junções e isso foi bom para eu definir o que eu queria realmente pra minha vida, pro meu curso e para a melhora bem significativa do meu quadro de depressão e ansiedade”, expõem a aluna.

Dentro da instituição, a acadêmica de enfermagem passou por vários momentos que o seu principal pensamento era desistir. “No ano em que minha irmã faleceu, eu perdi muitas provas, aulas e acabei perdendo um ano da faculdade. Como eu não tinha muita cabeça para estudar eu acabei não alcançando a média, meu pensamento era de que eu não ia conseguir, queria desistir de tudo”. Ela ainda relata que ver sua turma avançando e ela ficar para trás foi um momento difícil, um sentimento de incapacidade, porém, atualmente, ela pensa que tudo tem um propósito e cada pessoa tem seu tempo.

No período em que esses transtornos não eram controlados, sofria crises de ansiedade de quatro à cinco vezes no dia. Liana ainda relata que quando as crises eram muito fortes pedia para a amiga ligar para os pais para buscá-la, pois, as crises muitas vezes travavam o seu corpo

“Geralmente essas crises aconteciam quando eu estava aqui na faculdade. Quando eu sentia que as crises iam iniciar, já tomava a medicação, mas quando via que só ela não ia adiantar mandava mensagem para a minha amiga para me encontrar no banheiro”

Liana Fiebig

Buscar ajuda foi essencial para a saúde mental de Liana. Há três anos ela faz acompanhamento psicológico particular e pelo NAP e hoje, a estudante tem a ansiedade e depressão controladas, com poucas crises. “Às vezes você tem um dia carregado, uma semana carregada e poder compartilhar as coisas com alguém, sem julgamentos faz você se sentir melhor”, diz a acadêmica. Ainda de acordo com Liana, esses encontros com a psicóloga foram muito importantes para ela se encontrar na formação, já que enfermagem não era o curso que ela queria fazer no início da faculdade. Hoje, está no oitavo semestre e se apaixona mais a cada dia pela profissão.

Segundo Liana, por trabalhar na área da saúde, muitas pessoas pensam que esses profissionais não podem ficar doentes, mas é justamente ao contrário. “Temos um contato muito grande com todas as doenças, a chance de adoecermos é muito grande”. Ela ainda fala que existem muitas questões nesse meio que envolvem a saúde mental, como por exemplo a perda de um paciente, coisas que a graduação muitas vezes não supre. 

“Vemos por aí, muitos profissionais da enfermagem cometendo suicídio, cometendo lesões autoprovocadas devido a pressão no trabalho e várias outras coisas. Então isso acontece, e muito, a diferença é que as pessoas não aceitam essa doença”.

Liana Fiebig

No ano passado, a UFSM-PM passou por um momento difícil envolvendo saúde mental. Um aluno do curso de Ciências Biológicas, morador da Casa do Estudante Universitário, se suicidou na própria universidade.

Até hoje o campus de Palmeira das Missões vive o luto.

Todo ano, o NAP da UFSM-PM realiza mensalmente atividades relacionadas à saúde mental, que se intensificam no mês do Setembro Amarelo. Além disso, recebe diversas solicitações para atendimento e acompanhamento durante cada ano letivo.

Dados de 2019/2 da UFSM-PM

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